Novembro é o mês internacional de conscientização e prevenção ao diabetes, e o Dia Mundial da doença — celebrado em 14 de novembro — chama atenção para a urgência de políticas públicas que garantam diagnóstico precoce, acesso ao tratamento e reconhecimento dos direitos das pessoas com diabetes tipo 1 (DM1). A data foi criada pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e reconhecida pela ONU em homenagem a Frederick Banting, descobridor da insulina, essencial à sobrevivência de milhões de pessoas.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o país tem cerca de 20 milhões de pessoas com a doença, sendo 520 mil com diabetes tipo 1, que geralmente se manifesta na infância ou adolescência. No Distrito Federal, a Secretaria de Saúde estima 10 mil casos ativos, enquanto o Ministério da Saúde calcula que 18 milhões de brasileiros convivem com diabetes em diferentes estágios.
O tipo 1 ocorre pela destruição das células produtoras de insulina, enquanto o tipo 2 está ligado à resistência do corpo ao hormônio, sendo mais comum em adultos com sobrepeso ou histórico familiar. Apesar dos avanços científicos, o acesso às tecnologias de controle, como sensores de glicose e bombas inteligentes, ainda é restrito a poucos pacientes.
Para Jaqueline Correia, presidente do Instituto Diabetes Brasil (IDB), o Novembro Azul é um chamado à ação. “A insulina foi descoberta há mais de um século, mas até hoje o país não assegura direitos básicos a quem depende dela para viver. O Congresso Nacional pode corrigir essa injustiça ao derrubar o Veto 04/2025 ao Projeto de Lei 2687/22, que reconhece o DM1 como deficiência”, afirma.
A proposta, de autoria dos deputados Flávia Morais (PDT-GO) e Dr. Zacharias Calil (UNIÃO-GO), garante prioridade em atendimentos, acesso a tecnologias assistivas e políticas específicas de saúde e educação. Vetado pelo Executivo por alegado impacto orçamentário, o projeto é visto como fundamental por entidades e famílias que convivem com a condição.
O Brasil está entre os países com maior mortalidade por hipoglicemia noturna, e estudos da The Lancet apontam que 250 mil pessoas já morreram por complicações associadas à doença. “Sem acesso a sensores e bombas, o controle glicêmico se torna um desafio diário, e o risco de comorbidades aumenta”, alerta Jaqueline.
A vice-presidente da SBD, Solange Travassos, reforça que políticas públicas salvam vidas. “A bomba inteligente é um exemplo de tecnologia eficaz, mas ainda inacessível à maioria. Democratizar o tratamento é o caminho para reduzir custos e salvar milhares de brasileiros.”
Nas regiões mais vulneráveis, o apoio das organizações civis é o que mantém o cuidado ativo. A enfermeira Michely Bernardelli, da Associação Doce Vida, destaca que o suporte do IDB tem impulsionado a criação de leis locais e ações educativas. Já a nutricionista Ana Carolina Torelly, também voluntária do instituto, coordena aulas gratuitas e distribuição de cestas de frutas e legumes para famílias em vulnerabilidade.
Encerrando as ações do mês, o Instituto Diabetes Brasil promove o “Jantar de Líderes e Autoridades – Diabetes em Foco”, reunindo parlamentares, profissionais de saúde e representantes de instituições parceiras. “O diálogo entre sociedade e poder público é essencial. O Brasil gasta mais com complicações do que gastaria com prevenção”, conclui Jaqueline Correia.

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